sexta-feira, 9 de maio de 2008

A ÚLTIMA FLOR


A 12ª guerra mundial, como toda a gente sabe, levou a civilização a desaparecer.
Cidades, vilas e aldeias da Terra, todos os bosques e todas as florestas foram destruídas, assim como todos os jardins e todas as obras de arte.

Os homens e as mulheres e as crianças tornaram-se inferiores aos animais mais infimos.
Desencorajados e desiludidos, os cães abandonaram os seus donos.
Encorajados pela situação miserável dos antigos senhores da terra, os coelhos cairam sobre eles.

Os livros, os quadros e a música desapareceram da face da Terra, e os seres humanos limitaram-se a ficar sentados sem nada fazer.

Passaram os anos; até os poucos generais que restaram se esqueceram do que a última guerra tinha decidido. Os rapazes e as raparigas cresciam e olhavam uns para os outros sem interesse – porque o Amor tinha desaparecido da face da Terra.

Um dia, uma rapariguinha que nunca tinha visto uma flor viu, por acaso, a última flor do mundo e disse a todos os outros seres do mundo que a última flor estava a morrer.
A única pessoa que lhe prestou atenção foi um rapazinho que ela encontrou a vadiar. Juntos, rapaz e rapariga trataram da flor.

Um dia uma abelha visitou a flor e depois veio um passarinho; em breve apareceram duas flores, depois quatro e depois muitas flores. Os bosques e as florestas voltaram a florescer.

A rapariguinha começou a interessar-se pelo seu aspecto, o rapaz descobriu que era agradável olhar a rapariguinha. E o Amor voltou a nascer no Mundo.

Os filhos deles cresceram e eram fortes e saudáveis e aprenderam a correr e a rir. Os cães abandonaram o exílio. O rapaz descobriu que, pondo pedras umas em cima das outras, podia construír um abrigo.

Em breve toda a gente começou a construir abrigos…..
Surgiram cidades, vilas e aldeias; o mundo voltou a cantar.

E tornaram a aparecer trovadores e malabaristas,
e alfaiates e sapateiros
e pintores e poetas
e escultores e carpinteiros
e soldados
e soldados
e soldados
e soldados
e soldados
e tenentes e capitães
e generais e marechais
e libertadores.

As pessoas foram viver para locais diferentes. Não levou muito tempo para que, os que tinham ido viver nos vales desejassem ter ido viver para a montanha e os que tinham ido viver para a montanha desejassem ter ido viver nos vales.

E os libertadores, guiados por Deus,
inflamaram os animais; e voltou então a haver guerra no Mundo.
Desta vez a destruição foi total a tal ponto que nada, absolutamente nada, ficou no mundo.

Nada,
a não ser
um homem,
uma mulher
e uma flor.

James Thruber
“A Última Flor”

(não sei quando isto foi escrito, mas eu copiei-o há mais de 20 anos )