domingo, 18 de novembro de 2007

caminhada e yoga Novembro





Ghee

Muita gente me tem perguntado o que é e como se faz Ghee, pois este ingrediente aparece quase sempre nos pratos indianos e é sempre utilizado nos Pujas – rituais hindus (e também budistas) em que se ofereçe a luz proveniente da queima da ghee a um(a) deus/deusa ou á imagem dum(a) Guru. (claro que isto é uma descrição muito simplificada e incompleta dessas cerimónias).

Assim, decidi postar a receita da ghee neste mês de Novembro.

Ghee é manteiga clarificada, ou seja, é manteiga á qual se extraiu certas substâncias que para os sábios hindus e budistas são nocivas tanto para a saúde física como para o crescimento espiritual. E para obter ghee basta ter manteiga SEM sal. Infelizmente nem todos os supermercados a têm e quando há é muito mais cara do que a com sal. (não é isto um tamanho disparate???).

Pôem-se a manteiga num tacho e leva-se ao lume. A manteiga derrete e começa a ferver. O lume tem de estar médio a fraco (dependendo do fundo do tacho). Convêm mexer regularmente. A partir dum certo momento a manteiga “destalha”. Quando deixar de fazer espuma e toda a matéria “destalhada” ficar no fundo – isto geralmente leva entre 10 a 15m – a ghee está pronta. Cuidado para não deixar queimar. Tem de estar transparente, ou seja, clarificada. Deixa-se arrefecer um pouco e decanta-se para uma frasco de vidro. As escórias (se estiverem muito escuras, a ghee queimou) e alguma espuma deitam-se fora..

Depois de completamente fria, fecha-se o frasco.

A ghee é uma substância que não precisa de frigorífico e, tanto quanto se sabe, dura para “sempre”. Aliás, quanto mais antiga, mais medicinal. A única coisa que estraga imediatamente a ghee é a humidade. Assim, o frasco tem de estar completamente seco e as facas também.

A ghee é um produto muito usado no sistema Ayurveda. Segundo os especialistas é a substância que mais rápidamente chega ás células, sendo assim usada como veículo para levar mais rápidamente o medicamento onde é necessário.

De acordo com o livro The Complete Book of Ayurvedic Home Remedies do Dr. Vasant Lad a ghee “aumenta o fogo digestivo, melhora a absorção e a assimilação dos alimentos. (…) Fortifica o cérebro e o sistema nervoso e melhora a memória. Lubrifica as articulações tornando o corpo mais flexível. Pacífica os doshas pitta (fogo) e vata (ar) e é okay para kaphas em doses moderadas.”

dos Mestres

O Mestre escolhido para Novembro é Sri Nisargadatta Maharaj; os excertos são do livro “I Am That”. Nisargadatta viveu em Bombaim e morreu em 1981 aos 84 anos. O livro “I Am That” é, para mim, o melhor livro que existe. A afirmação é forte; o livro é simples, complexo, desconcertante e directo á Verdade. Talvez a nossa mente tão habituada a muita informação para coisa nenhuma não consiga apreender tudo o que Nisargadatta diz, mas é por isso mesmo que este livro é tão fantástico.

N.:“O objectivo é mostrado pelo Guru, os obstáculos descobertos pelo discípulo.(..)

Na verdade o discípulo não é diferente do Guru. Ele é o mesmo centro sem dimensão de percepção e amor em acção.É apenas a sua imaginação e auto identificação com o imaginado que o emprisiona e o converte numa pessoa.O Guru está pouco interessado na pessoa. A sua atenção centra-se no observador interior. É função do observador compreender e, como tal, eliminar a pessoa. Enquanto que há Graça por um lado , tem de haver dedicação á tarefa pelo outro.

P.: mas a pessoa não quer ser eliminada.

N.: a pessoa é meramente o resultado de um mal entendido. Na verdade, não existe tal coisa. Sentimentos, pensamentos e acções passam pleo observador numa sucessão sem fim, deixando marcas no cérebro e criando uma ilusão de continuidade. Uma reflexão do observador na mente cria a sensação de “EU” e a pessoa adquire uma aparente existência independente. Na verdade, não existe pessoa, apenas o observador identificando-se a si mesmo com o “eu” e o “meu”. O Guru diz ao observador: tu não és isso, não existe nada de teu nisso excepto o pequeno ponto de “eu sou”, que é a ponte entre o observador e o seu sonho. “Eu sou isto, eu sou aquilo” é sonho, enquanto puramente “eu sou” tem o selo da realidade em si. Tu experimentaste tantas coisas – tudo ficou em nada. Apenas a sensação “eu sou” persiste – imutável. Mantêm-te com o que não muda no meio do que muda até conseguires ir mais além.

(…)Tu enquanto pessoa imaginas que o Guru está interessado em ti como pessoa. Nada disso. Para ele tu nada mais és do que uma chatice e um obstáculo para ser removido. Ne realidade, o Guru aponta para a tua eliminação como um factor na consciência.

P.: se eu for eliminado, o que resta?

N.: nada fica, tudo fica. O sentido de identificação fica, mas não mais identificação com um corpo em particular. Ser – Consciência – Amor brilharam em todo o seu explendor. Libertação nunca é para a pessoa, mas sim da pessoa.

P.: e não fica nenhum traço da pessoa?

N.: uma vaga memória, como a memória de um sonho ou o início da infância. Afinal de contas, o que há para lembrar? Uma corrente de eventos a maior parte deles acidental e sem significado. Uma sequência de desejos, medos e outros que tais. Alguma coisa merecedora de ser lembrada? A pessoa nada mais é do que uma concha que te mantêm preso. Parte a concha.”

Fritz - antes e agora




O cão que me salvou da apatia e estupidez

Infelizmente sou uma pessoa que critico e reclamo de quase tudo: das pessoas que deitam lixo para o chão em plena floresta; dos motoqueiros e condutores de veículos todo o terreno que vão fazer “desporto” para a natureza e deixam tudo cheio de pó e tiram o sossego de fim de semana a quem tanto precisa de descansar; dos caçadores que matam tudo indiscriminadamente (as excepções também podem ir para……), e que continuam a caçar mesmo depois de os incêndios já terem morto quase tudo ; dos bombeiros que, apesar do seu heroísmo, brincam de apagar incêndios (basta vê-los de mangueira na mão a deitarem água durante 2 segundos num sítio para logo deitarem água noutro e logo depois noutro – como se umas pingas assustassem qualquer fogo); de todos os governos que gastam cada vez mais dinheiro para apagar fogos com aviões, em vez de o gastarem na prevenção; e que NUNCA gastam 1 centimo na reflorestação, mas dão fortunas para disparates que só interessam a meia dúzia; das pessoas que não olham a meios desde que o que fazem lhes dê mais dinheiro; das famílias que se queixam dos salários pequenos e correm a gasta-los em batatas fritas, hamburgers, refrigerantes, telemóveis e pretensa roupa de marca; dos ricos que não ajudam ninguêm e ainda querem mais e são pobres de espírito; dos pobres que sonham ser como os ricos; enfim, da ignorância, da ganância e da apatia.

E então e eu, serei melhor do que aqueles que tanto me incomodam?

Bem…..pode-se quase dizer que até sou pior. Porque estar consciente dos problemas e usar a desgraça e ignorância alheia só para tema de conversa, é triste; é pobre. E é aqui que entra um certo cão….

Ia eu uma manhã destas para Viana do Castelo quando vejo, junto de umas casas em construção, um cão bébé. Magro, mas inchado . E pior (!), cheio de feridas de tanto se coçar. Comecei logo a chorar pois o estado do cão era mesmo miserável. Continuei a conduzir e a insultar quem abandona animais; fui o tempo todo até Viana numa fúria tremenda contra os padres da igreja católica que dizem que, como os animais não tem alma, não sentem. E assim o povinho deita fora os animais porque não lhes dá jeito, acreditando que fome e doenças não trazem sofrimento aos animais porque estes não tem alma. A ignorânça e a estúpidez não terão limite?

Quando voltei de Viana nem quis olhar para onde tinha visto o cão. Mas uns dias depois lá voltei a Viana. E o cão apreceu mesmo junto á estrada. Pior. Ainda mais magro e com menos pêlo. Nessa noite não dormi direito. Que tipo de ser humano sou eu que, face a tremendo sofrimento, nada faço? Olho para o outro lado, ignoro e digo mal dos outros. Na terceira vez que vi o cão decidi ficar com ele. Mas como? Vivo na Alemanha quase metade do ano e não tenho a quem o deixar quando partir no final de Novembro.

No dia dos meus anos a minha amiga alemã Satori fez-me uma surpresa e veio a Portugal por 3 dias para festejar o meu aniversário. Falhei-lhe do cão. Ela achou muito difícil eu ficar com ele sobretudo por ele estar doente. Nesse dia fomos ao Porto para festejar com os meus amigos os meus anos. Coitados, mal acabamos de almoçar e logo lhes dissemos adeus: tinhamos decidido ir buscar o cão e levá-lo ao veterinário e queriamos fazê-lo antes de escurecer. Viemos a casa trocar de roupa e fomos buscar o cão.

Mal o viu a Satori começou a chorar. O cachorrinho com cerca de 3 meses estava tão fraco e todo ele era uma ferida que pensamos que a veterinária ia achar melhor abaté-lo. Mas não. Apesar de ter o pior tipo de sarna, decidimos salvá-lo. Sabia que ia ser difícil , mas não pensei que fosse tanto.

Como o cão tem sarna contagiosa para o ser humano, tem de estar isolado (ainda por cima dou de comer a alguns gatos). Três vezes por dia vou passeá-lo, mas para isso tenho de mudar três vezes de roupa (toda) e quando chego tenho de me desinfectar. Como trabalho com comida…..deixei de trabalhar. Não voltei a sair de casa – só para o levar ao veterinário com a ajuda da minha irmã Micaela que vem do Porto de propósito. Enfim, uma grande chatice!

Mas agora o Fritz – foi a minha amiga alemã que lhe deu o nome – está fino. Está a engordar imenso, o pêlo está a voltar, já corre e brinca apesar de não saber nada das brincadeiras habituais dos cachorrinhos – nem correr atrás duma bola ele sabe. Já não se coça, já não tem feridas, não passa fome, tem uma casa e muitos amigos. E eu, que estou cansada e com a vida ás avesas, descobri que com discursos meus está o inferno cheio; porque a única forma de se ser activista por um mundo melhor é FAZER ALGUMA coisa. A única forma de o mundo mudar é nós mudarmos a nossa atitude perante os problemas e dificuldades. É pararmos de achar que, ao reenviar mails muito bonitos aos amigos sobre desgraças e com palavras encantadoras, estamos de facto a contribuir para alguma mudança. É pararmos de ser passivos e indiferentes e AGIR. Nem que seja só salvar um cão do seu sofrimento Talvez salvar um cão seja pouco; talvez eu devesse ajudar crianças abandonadas, dirão muitos. Pois, eu também sei fazer discursos, também sei mandar mails cheios de palavras encantadoras……

Possa o teu Coração estar sempre aberto e viveres sempre em Amor

Atimati