domingo, 18 de novembro de 2007

Fritz - antes e agora




O cão que me salvou da apatia e estupidez

Infelizmente sou uma pessoa que critico e reclamo de quase tudo: das pessoas que deitam lixo para o chão em plena floresta; dos motoqueiros e condutores de veículos todo o terreno que vão fazer “desporto” para a natureza e deixam tudo cheio de pó e tiram o sossego de fim de semana a quem tanto precisa de descansar; dos caçadores que matam tudo indiscriminadamente (as excepções também podem ir para……), e que continuam a caçar mesmo depois de os incêndios já terem morto quase tudo ; dos bombeiros que, apesar do seu heroísmo, brincam de apagar incêndios (basta vê-los de mangueira na mão a deitarem água durante 2 segundos num sítio para logo deitarem água noutro e logo depois noutro – como se umas pingas assustassem qualquer fogo); de todos os governos que gastam cada vez mais dinheiro para apagar fogos com aviões, em vez de o gastarem na prevenção; e que NUNCA gastam 1 centimo na reflorestação, mas dão fortunas para disparates que só interessam a meia dúzia; das pessoas que não olham a meios desde que o que fazem lhes dê mais dinheiro; das famílias que se queixam dos salários pequenos e correm a gasta-los em batatas fritas, hamburgers, refrigerantes, telemóveis e pretensa roupa de marca; dos ricos que não ajudam ninguêm e ainda querem mais e são pobres de espírito; dos pobres que sonham ser como os ricos; enfim, da ignorância, da ganância e da apatia.

E então e eu, serei melhor do que aqueles que tanto me incomodam?

Bem…..pode-se quase dizer que até sou pior. Porque estar consciente dos problemas e usar a desgraça e ignorância alheia só para tema de conversa, é triste; é pobre. E é aqui que entra um certo cão….

Ia eu uma manhã destas para Viana do Castelo quando vejo, junto de umas casas em construção, um cão bébé. Magro, mas inchado . E pior (!), cheio de feridas de tanto se coçar. Comecei logo a chorar pois o estado do cão era mesmo miserável. Continuei a conduzir e a insultar quem abandona animais; fui o tempo todo até Viana numa fúria tremenda contra os padres da igreja católica que dizem que, como os animais não tem alma, não sentem. E assim o povinho deita fora os animais porque não lhes dá jeito, acreditando que fome e doenças não trazem sofrimento aos animais porque estes não tem alma. A ignorânça e a estúpidez não terão limite?

Quando voltei de Viana nem quis olhar para onde tinha visto o cão. Mas uns dias depois lá voltei a Viana. E o cão apreceu mesmo junto á estrada. Pior. Ainda mais magro e com menos pêlo. Nessa noite não dormi direito. Que tipo de ser humano sou eu que, face a tremendo sofrimento, nada faço? Olho para o outro lado, ignoro e digo mal dos outros. Na terceira vez que vi o cão decidi ficar com ele. Mas como? Vivo na Alemanha quase metade do ano e não tenho a quem o deixar quando partir no final de Novembro.

No dia dos meus anos a minha amiga alemã Satori fez-me uma surpresa e veio a Portugal por 3 dias para festejar o meu aniversário. Falhei-lhe do cão. Ela achou muito difícil eu ficar com ele sobretudo por ele estar doente. Nesse dia fomos ao Porto para festejar com os meus amigos os meus anos. Coitados, mal acabamos de almoçar e logo lhes dissemos adeus: tinhamos decidido ir buscar o cão e levá-lo ao veterinário e queriamos fazê-lo antes de escurecer. Viemos a casa trocar de roupa e fomos buscar o cão.

Mal o viu a Satori começou a chorar. O cachorrinho com cerca de 3 meses estava tão fraco e todo ele era uma ferida que pensamos que a veterinária ia achar melhor abaté-lo. Mas não. Apesar de ter o pior tipo de sarna, decidimos salvá-lo. Sabia que ia ser difícil , mas não pensei que fosse tanto.

Como o cão tem sarna contagiosa para o ser humano, tem de estar isolado (ainda por cima dou de comer a alguns gatos). Três vezes por dia vou passeá-lo, mas para isso tenho de mudar três vezes de roupa (toda) e quando chego tenho de me desinfectar. Como trabalho com comida…..deixei de trabalhar. Não voltei a sair de casa – só para o levar ao veterinário com a ajuda da minha irmã Micaela que vem do Porto de propósito. Enfim, uma grande chatice!

Mas agora o Fritz – foi a minha amiga alemã que lhe deu o nome – está fino. Está a engordar imenso, o pêlo está a voltar, já corre e brinca apesar de não saber nada das brincadeiras habituais dos cachorrinhos – nem correr atrás duma bola ele sabe. Já não se coça, já não tem feridas, não passa fome, tem uma casa e muitos amigos. E eu, que estou cansada e com a vida ás avesas, descobri que com discursos meus está o inferno cheio; porque a única forma de se ser activista por um mundo melhor é FAZER ALGUMA coisa. A única forma de o mundo mudar é nós mudarmos a nossa atitude perante os problemas e dificuldades. É pararmos de achar que, ao reenviar mails muito bonitos aos amigos sobre desgraças e com palavras encantadoras, estamos de facto a contribuir para alguma mudança. É pararmos de ser passivos e indiferentes e AGIR. Nem que seja só salvar um cão do seu sofrimento Talvez salvar um cão seja pouco; talvez eu devesse ajudar crianças abandonadas, dirão muitos. Pois, eu também sei fazer discursos, também sei mandar mails cheios de palavras encantadoras……

Possa o teu Coração estar sempre aberto e viveres sempre em Amor

Atimati