domingo, 10 de fevereiro de 2008





(…) Como podem comprar ou vender o céu, o calor da terra? Esta idéia parece-nos estranha. Não somos donos do frescor do ar nem do cintilar da água. Como os podemos vender? Decidiremos oportunamente. Deverão saber que cada particula desta terra é sagrada para o meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende a nossa maneira de ser. Para ele tanto faz um pedaço de terra como outro porque é um estranho que vem de noite roubar da terra o que precisa. A terra não é sua irmã mas sua inimiga. Quando a conquista, abandona-a e segue o seu caminho. Deixa atrás de si a sepultura dos seus pais e rouba da terra dos seus filhos sem se importar com isso. Esquece a sepultura dos seus pais e os direitos dos seus filhos Trata a sua mãe, a Terra, e o seu pai, o Céu, como se fossem coisas que podem ser compradas, roubadas e vendidas. Seu apetite insaciável devora a terra e deixará apenas um deserto atrás de si. Não há nenhum lugar tranquilo nas cidades do homem branco, nenhum lugar onde se possa escutar o nascimento das folhas na Primavera ou o roçar das asas de um insecto. Mas talvez isso ocorra porque sou um selvagem incapaz de compreender as coisas. O ruído da cidade parece insultar os meus ouvidos. Que tipo de vida é esta na qual um homem não pode escutar o grito de uma garça ou a conversa nocturna das rãs ao redor da lagoa? Sou um homem de pele vermelha e não compreendo isso. Nós, indios, preferimos o som suave do vento que acaricia o rosto do lago e o aroma desse vento purificado pela chuva do meio-dia ou perfumado pela fragância dos pinheiros.

Consideraremos a oferta de comprar as nossas terras. Se decidirmos aceitá-la, imporei uma condicção: que o homem branco trate os animais dessas terras como irmãos. Sou um selvagem e não compreendo outro modo de conduta. Vi milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias abandonados ali pelo homem branco que os alvejou dum comboio em movimento. Sou um selvagem que não compreendo como o comboio pode ser mais importante do que o búfalo que só matamos para sobreviver. O que será do homem branco sem os animais? Se todos os animais desaparecerem, o homem morrerá de uma grande solidão de espírito. Porque tudo o que acontecer aos animais acontecerá ao homem. Todas as coisas estão relacionadas entre si.

Isto nós sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. O homem não teceu a rede da vida: é só parte dela .Tudo o que fizer à rede, fará a si mesmo. O que acontece com a terra, acontecerá com os filhos da terra. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família.

Os homens brancos também passarão, talvez antes das outras tribos. Se contaminarem a sua cama, morrerão alguma noite sufocados pelos próprios desperdícios. Mas, mesmo na sua hora final, sentir-se-ão iluminados pela idéia de que Deus os trouxe a estas terras e lhes deu o domínio sobre elas e sobre o homem de pele vermelha, com algum propósito especial. Tal destino é um mistério para nós porque não compreendemos o que acontecerá quando todos os búfalos estiverem extintos, quando os cavalos selvagens estiverem domesticados, quando os recantos mais escondidos das florestas exalarem o odor de muitos homens e, quando a vista, até as colinas verdejantes, estiver coberta de fios tagarelantes. Onde estará o bosque? Desapareceu. Assim termina a Vida e começa a mera sobrevivência………

Seatle – chefe indio

resposta ao presidente Franklin Pierce - 1855(?) (esta é apenas uma das muitas versões existentes)